Zélia Cardoso (USP) teve contato com o latim em 1942, com 7 anos. Um ano de guerra, terrível como este que estamos vivendo. As igrejas começaram a rezar pela paz e Zélia, que morava nas Perdizes, perto do Carmelo, ia toda tarde rezar os 48 epítetos da ladainha de Nossa Senhora em latim, que acabava com regina pacis, rainha da paz. Foi a primeira aluna a se matricular e receber o titulo de doutor em Letras clássicas na USP, em 1976, e lá ficou por mais de 40 anos dando aula de latim. O resto é uma parte fundamental da história das letras clássicas no Brasil. Zélia nos fala de Propércio e de suas 96 Elegias. Poeta elogiado de época de Augusto, não sabemos muito da vida dele, mas participa da celebre revolução cultural augustana com sua poesia de amor. A pergunta que Zélia se faz é porque ele escreve elegias? A história da elegia vai explicar um pouco isso e de como a elegia vira poesia de amor em época alexandrina e depois em Roma, onde se veste de uma roupagem nova, passando a ter uma coloração autobiográfica. A maioria das elegias é dedicada a Cíntia e ele próprio, seu eu poético escravizado, vitima desse amor. O amor é uma doença incurável, uma loucura que afasta as pessoas da razão, um sofrimento. Mas é também guerra que pode levar ao sadomasoquismo, ao desejo de morte. De Cíntia Propércio dá o melhor retrato físico de toda poesia latina: fala da altura, dos cabelos, dos seios, das graças ocultas que tem sob as vestes. Propércio. Cynthia monobiblos 1,1-8 Cynthia prima suis miserum me cepit ocellis     contactum nullis ante cupidinibus. Tum mihi constantis deiecit lumina fastus         et caput impositis pressit Amor pedibus           donec me docuit castas odisse puellas           5   improbus et nullo uiuere consilio. Et mihi iam toto furor hic non deficit anno   cum tamen aduersos cogor habere deos.  Foi Cíntia, com seu fascínio, a primeira a cativar-me,                 desditoso, anteriormente não tocado por paixões.              Amor abateu-me o brilho de minha altivez constante                 e comprimiu-me a cabeça, pondo sobre ela os pés,              enquanto ele me ensinava a detestar moças castas,                             e a viver sem bons costumes, sem nenhuma sensatez.             A loucura não cessou, durante este ano inteiro,               mas sou forçado a julgar os deuses como adversos.

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98 – Ovídio

97 – Geropso

96 – Rainha Tiye

95 – Marcial

94 – Lisístrata

93 – Fedro, o fabulista

92 – Cleópatra da Macedônia

91 – Perseu

90 – Dhuoda

89 – Teofrasto

88 – Boudica

87 – Teógnis de Mégara